No dia que tiraram os lustres é uma pesquisa sobre o processo de olhar para trás, reolhar, discartar e preservar. É sobre a constante desconstrução e montagem da memória. E a projeção que fazemos de nós no mundo. Rastros e vazios, presenças e ausência, lembranças e sensações persistem apenas nos olhos de quem as vê.
Ao longo de nove meses acompanhei o desmonte de um apartamento após a morte de sua proprietária. Enquanto as coisas eram selecionadas, editadas e retiradas pela família, novas camadas eram desveladas e ressignificadas. Tempos soterrados pelo excesso e pelo acúmulo, ressurgiam. Ausências ganhavam corpo num processo intenso e transitório. A cada dia, a cada escolha, novos agrupamentos, coisas que perdiam sentido e outras eram alçadas a uma nova existência. O desmonte das lembranças, das memórias, o descarte e a atualização. A constante construção e desconstrução do passado. Em cada canto, em cada objeto, lembranças e sensações depositadas por cada um que por ali passou eram desafiadas a resistir ou fadadas ao esquecimento. Restos de vida que reconstroem um passado ficcional. Lacunas do passado onde novas narrativas podem ser criadas.
Das mais de quinhentas fotografias feitas ao longo deste processo escolhi 60 para expor de forma instalativa na sala grande da Galeria Z42. As fotos são aplicadas diretamente nas paredes de forma a perder sua dimensão física. As escalas e os espaçamentos entre as imagens variam tornando necessária a aproximação e o afastamento, aceleração e pausa, ver e rever por parte do espectador.
A instalação conta com um áudio ambiente, resultado de gravações sobrepostas do perímetro da casa, percorrido exaustivamente ao longo do projeto, e que soma mais uma camada ao trabalho, ajudando a construir um tempo crônico. São tempos distintos e desorganizados que criam uma narrativa lacunar onde o expectador é convidado a construir sua própria montagem. Uma grande história, em andamento, que nunca dará conta de traduzir o que foi.